É POSSÍVEL!

Marcos Pontes
18/07/2007

Assisti em uma reportagem. Fiquei emocionado pelo significado profundo. Um professor de educação física de uma pequena escola municipal em Ponta-Porã decidiu tomar em suas próprias mãos a responsabilidade de mudar a vida de seus alunos, e assim o fez.
Não tendo uma quadra para treinar, usou do tempo de aula para, junto com seus alunos, carpir uma quadra, improvisada ao lado da escola. Usaram uma porta velha, cortada ao meio, para fazer as tabelas. Comprou os aros e as redes. Estava pronta a quadra. Sem ajuda do prefeito, sem conhecimento do governo, do padre ou da imprensa. Estavam prontos os corações, a parte mais importante.
Seus alunos perceberam que cabia a eles acreditar na possibilidade. Não esperar pela melhor situação. Não esperar, lamentando a demora de quem seria “responsável”. Perceberam que eles mesmos eram responsáveis por “carpir” no sentido de abrir caminho entre os espinhos. “Capinaram” o mato do seu caminho. Construiram seu caminho. Não usaram o outro sentido possível do verbo “carpir”: não lamentaram ou choraram a sorte, como tantos o fazem. Eles fizeram o que era preciso, encararam a situação, venceram as dificuldades e hoje são campeões de basquete da cidade, do estado talvez, não sei bem, mas, com certeza, são campeões da vida, o que vale muito mais que os títulos e troféus.
Vendo ali, orgulhoso na TV, aquele professor simples com seus alunos felizes, jogando ao redor de seu ídolo que os visitava, o nosso caro Oscar Schmidt, lembrei das palavras de Gandhi: “qualquer coisa que você fizer será insignificante, mas é muito importante que você faça a sua parte!” O próprio Oscar disse algo semelhante durante a reportagem: “esse professor não pode mudar o Brasil, mas com certeza ele conseguiu mudar a vida ao seu redor. Seria bom se todos os brasileiros fizessem isso!” Um momento bom, que reacende o orgulho do país e a esperança em nosso povo. Um momento que me fez acreditar uma vez mais.
E você? Será que está “fazendo a sua parte”, ajudando a “carpir” caminhos? Ou será que está “carpindo” a sorte esperando que alguém faça algo por você?
Muita coisa para fazer no dia-a-dia? Pare um instante. Olhe bem para você. Veja as suas limitações. Compare com as limitações de tantas outras pessoas. Você já assistiu a uma competição de pessoas com necessidades especiais? Como você se sente? Sente-se capaz de competir com eles e vencer? Não estou falando de nadar ou correr mais rápido. Estou falando na coragem de estar ali. Juntar todas as suas forças e acreditar que, apesar de todas as suas limitações, existe uma possibilidade. E assim, existindo essa possibilidade, dedicar-se de corpo e, principalmente, alma para vencer. Não para chegar na frente dos outros, mas para vencer seus medos e chegar…também.
É isso que eu vi naquele professor de Ponta-Porã e seus alunos de basquete: a coragem de acreditar e fazer sua parte.
Hoje os dias podem ser difíceis. Hoje talvez você esteja se sentindo triste e impotente perante aos grandes problemas que enfrenta. O que eu gostaria de lembrar é que tudo passa um dia. Vivemos em uma pequena casca em torno de um lindo planeta azul. Nos prendemos muito a nossa curta visão, ao nosso pequeno horizonte. Visto do espaço percebemos que o “horizonte real” na verdade não existe. Existe um universo além da nossa pequena casca ao redor do planeta. Assim, não se prenda ao seu problema. Sonhe e acredite muito além dele. Tenha certeza que, se você acreditar nas suas possibilidades acima das suas limitações, você sempre poderá contar com uma ajuda imbatível. Tudo da mesma forma, simples e natural, como eu pude ler em uma mensagem escrita em uma barraca de frutas de beira de estrada outro dia: “Diga ao seu Deus do seu grande problema, mas também diga ao seu problema do seu grande Deus!”


Marcos Pontes
Colunista, professor e primeiro astronauta profissional lusófono a orbitar o planeta, de família humilde, começou como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP), para se tornar oficial aviador da Força Aérea Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA).

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